Catchup cinematográfico*

Um aviãozinho vermelho no centro da mesa. Uma mulher, um menino. Mãe e filho? Talvez.

Um menino; um menino de aproximadamente oito anos, moreno, cabelos lisos com franjinha, olhos escuros. Ele está vestido com o uniforme do colégio, meias cinzas combinando com a cor da blusa, tênis preto. No momento, está com os óculos. Parece inquieto; enquanto come um salgado e bebe refrigerante, inclina a cadeira que está sentado para frente e para trás como se estivesse num balanço. Talvez fosse esta a sua vontade – ou talvez ‘esta’ seja apenas uma inferência sem fundamento da observadora.

O catchup! Ah, quase que me esqueço de falar do catchup! Sempre antes de levar o salgado a boca, o menino molha a iguaria no líquido vermelho. A forma do garoto comer torna-se um ciclo: salgado, catchup, refrigerante, cadeira para frente e para trás, salgado, catchup, refrigerante...

Só que o ritual é interrompido antes do tempo. A mulher termina o lanche e chama o menino para ir embora. Ele concorda, pega o seu aviãozinho vermelho que estava no centro da mesa, e segue andando com o salgado... Sem o catchup agora.

*Texto escrito em outubro de 2001, durante um mini-curso que participei sobre roteiro de cinema para curtas. A cena descrita se passou na praça de alimentação do shopping Bouganville, em Goiânia.

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