Minha mãe sempre sonhou em ser avó. E no final de 2011 foi
ela quem me deu um presente: a manta que bordou para mim quando eu era bebê.
Ato profético. Assim como o encarte do Correio Braziliense que ela colocou
escondido na minha bolsa quando eu e o Thiago passamos um final de semana com
ela e com as meninas em Brasília (minhas irmãs, Renata e Camila, serão sempre
meninas pra mim). A chamada da capa da Revista do Correio - o caderno de
cultura do jornal - do dia 29 de abril de 2012 era a seguinte: “A agitada vida
do senhor bebê – Inglês, música, jogos... Descubra a dose certa de estímulos
para o seu filho”. Quando cheguei em Goiânia e abri a bolsa, qual não foi a
minha surpresa!
- Como isso veio
parar aqui?
- Sua mãe colocou na
bolsa sem ninguém ver.
É, na verdade, quaaaase ninguém viu. Dos olhos observadores
do Thiago, Reca (apelido de mamãe) não conseguiu escapar.
E eu abri um sorriso enorme ao imaginar a cena. O cuidado, o
zelo, a atenção, a preocupação de dona Regina com sua filha mais velha. A sua
fé.
Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e
a prova das coisas que se não vêem. (Hebreus 11:1)
Mamãe nunca duvidou que eu seria mãe. A manta e o encarte do
Correio me foram dados antes de eu engravidar, o que ocorreu em maio de 2012.
Mês do seu aniversário. Mês também em que ela engravidou de mim, há pouco mais
de três décadas. Mês das mães.
- É claro que você
vai ser mãe, Carla.
Era como se ela lesse meus pensamentos e retirasse o receio que eu tinha – e acredito que a maioria das mulheres já pensou nisso pelo menos uma vez na vida – de não vivenciar a maternidade. Olha que ela nem sabia que há dois anos eu havia suspendido o anticoncepcional e que um ovário micropolicístico adiava, de forma inexplicavelmente macro, meu sonho de ter um bebê.
Era como se ela lesse meus pensamentos e retirasse o receio que eu tinha – e acredito que a maioria das mulheres já pensou nisso pelo menos uma vez na vida – de não vivenciar a maternidade. Olha que ela nem sabia que há dois anos eu havia suspendido o anticoncepcional e que um ovário micropolicístico adiava, de forma inexplicavelmente macro, meu sonho de ter um bebê.
Mas, em maio de 2012, aconteceu. E também em maio de 2012, o
resultado – pasmem! - deu negativo, mesmo eu estando grávida. A pedido da minha
médica, repeti o exame. No dia 15 de junho, nossa redenção. Eu e Thiago,
paralisados em frente ao computador.
- Carla, você tá
grávida! Carla, você tá grávida! Carla, você tá grávida! – Thiago repetia sem
parar.
Eu não acreditava. E, sim, meus olhos se encheram de
lágrimas. Lágrimas que rapidamente lavaram aquelas memórias de resultados
negativos de outrora – conferidos dentro do carro em frente ao laboratório, no
nosso quarto, ou depois de um dia de trabalho na Prefeitura de Aparecida de
Goiânia.
Grávida, eu começava a me imaginar grávida! Nossa, a ficha
não caía.
Êxtase total. Euforia total. Ao ligar para a minha médica: “Dra.
Samira, o que eu preciso fazer agora? Que dia marcamos o ultrassom? Que dia
posso ir aí no consultório? E o raio-X que fiz quando quebrei o dedão do pé (no
dia 2 de junho)? Pode ter feito mal para meu filho?”. Ao ligar para meu
endócrino: “Continuo tomando o Puran T4? (remédio usado para controlar o
hipotireoidismo). Mais alguma recomendação quanto à minha alimentação?”. Ao
ligar para minha terapeuta: “Dra. Jane, estou grávida!!!!!!!!”.
Começamos uma corrida interna. E externa. E eu com aquelas
botas ortopédicas lindas de morrer! (Segunda vez em quatro meses que usei a
bendita; no começo do ano, havia torcido meu pé no estacionamento da Agência
Goiana de Comunicação – Agecom). Mas enfim: com bota ou sem bota, mancando ou
não, a meta era organizar tudo para dar a notícia em primeira mão para mamãe e
para as meninas. Fiz o ultrassom. Cheguei antes na capital federal. Thiago, na
sexta-feira, 22 de junho, depois do expediente, com a caixa amarela. Horas
antes, eu havia conversado com a oncologista da mamãe, Dra. Daniele Assad, no
corredor do Hospital Brasília. Queria saber se podia contar a novidade naquele
mesmo dia, quando estava marcada a primeira sessão de quimioterapia da vovó
mais linda do mundo.
- Olha, Carla, acho
que hoje ela já vai ter muita adrenalina. Mas vocês podem avaliar melhor. Ela
vai ficar muito feliz! – observou Dani, como minha mãe costumava chamar
carinhosamente a oncologista.
- Parabéns! –
complementou ela, ao me dar um abraço forte e afetuoso.
Eu e Thiago conversamos com as meninas. Antes de mostrar a
caixa amarela para a mamãe, mostramos para elas. Renata e Camila sorriram.
Choraram. Nos abraçaram.
Acendemos a luz do quarto.
- Mãe, olha o
presente que a Carla trouxe pra gente...
(Continua).
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