*As datas de todos os
textos se referem ao ano de 2012.
A BR-060, entre Goiânia e Brasília, nunca foi tão extensa. Duas
horas, duas horas e meia de percurso? Não, para mim foi simplesmente uma
eternidade. De angústia. De ansiedade. De preocupação. De medo. De tensão. Era
difícil controlar o pensamento.
- Senhor, por favor, que eu possa ver a minha mãe! Senhor, permita que
eu veja a minha mãe!
Eu não imaginava o que estava por vir, mas, sim, temi o pior.
A madrugada não tinha sido boa. O dia anterior à viagem, 21 de março*, aliás,
não foi nada aprazível. Já no meio da manhã, sobrancelhas franzidas na primeira
conversa que tive por telefone com a Renata. Eu estava saindo da sala de
cinegrafia da TV Brasil Central quando nos falamos pela primeira vez.
- Vamos levar a mamãe
ao psiquiatra novamente e depois ao INSS para tentar uma licença médica.
No início do mês, minha
mãe tinha apresentado sinais de estresse, estafa e confusão mental. Imaginamos
que poderia ser um princípio de depressão, em função de outras crises que ela
já havia passado anteriormente. Mas os medicamentos prescritos pelo médico não
surtiam efeito. O quadro de mamãe piorava: ela começava a ter problemas de
fala, memória e coordenação motora.
- Carla, o doutor Marcelo pediu uma tomografia de crânio com
urgência.
Novamente Renata me mantinha informada. Elas seguiram para o
INSS; os peritos deram licença médica para mamãe. Ela realmente não estava bem.
À tarde, eu ainda na TV, tensa, preocupada, e uma nova
ligação.
- Tia Vera (irmã de
minha mãe) falou com o doutor Marcelo. Parece que ele suspeita de princípio de
AVC (acidente vascular cerebral). Estamos todas indo para o Hospital Santa
Luzia.
Eu não acreditava.
Andava de um lado para o outro no pátio interno da Agecom. AVC? Minha mãe? Como
assim?
No carro, antes de engatar a primeira e seguir para casa,
liguei pra Renata de novo. Eram por volta das 18 horas.
- Ainda estamos
esperando para sermos chamadas para o exame.
Gente, como assim? –
pensava. A tomografia não é de emergência?
Segundos, minutos, horas se passaram. Só a minha agonia que não.
Pouco mais de 21 horas. O telefone toca. Thiago atende. Eu o
observo, o semblante é sério.
- Anhan.
- Anhan.
- Anhan.
- E Renata...
- U.T.I.
São essas as poucas palavras das quais me lembro daquele dia...
- U.T.I.
Ú.Tê. I. Ú.Tê. I. Ú.
Tê. I. Sua mãe precisa de uma Ú.Tê. I.
As letrinhas antipáticas reverberavam, sem parar, sem parar,
sempararsempararsemparar na minha mente. E eu já estava aos prantos.
- Calma, Carla! Calma, Carla.
Após desligar o telefone, Thiago teve a árdua tarefa de
tentar me tranquilizar.
- O exame ficou pronto,
amor. Sua mãe está com uma lesão na cabeça. Mas fique tranquila, ela está no
hospital, está sendo assistida. Vai ficar tudo bem!
E nós caímos de joelho. Oramos. Clamamos.
Meu choro, ora intenso, ora sussurrado, não conseguia
espantar meu medo. O telefone tocou novamente. E a situação, que já era
insuportavelmente difícil, ficou inacreditavelmente dolorosa. Faltava uma
semana para vencer o tempo de carência do plano de saúde da minha mãe. O
hospital não aceitava interná-la. Para ela ficar lá, pediram R$ 10 mil.
- A gente pega um
empréstimo amanhã, Renata, a gente se vira, mas pode internar a mamãe.
Poucos minutos depois, novo telefonema.
- Carla, estão pedindo
R$ 50 mil agora. E só para começar.
Choro em Brasília. Choro em Goiânia. Choro durante o percurso
Goiânia-Brasília. E a BR-060 nunca foi tão extensa.
(Continua).
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